Cunha cita bando de aloprados no Planalto e diz:
'Agora sou oposição'
Citado por delator, presidente da Câmara afirmou
que é vítima de perseguição política. E que não será arrastado pelo PT para a
'lama' do petrolão
Por: Marcela Mattos, de
Brasília17/07/2015 às 11:53 - Atualizado em 17/07/2015
às 13:27
Eduardo Cunha em entrevista coletiva em Brasília(Ed Ferreira/Folhapress)
Depois de declarar guerra ao Palácio do Planalto, o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fez nesta sexta-feira seu mais
duro ataque ao governo e ao Partido dos Trabalhadores. Arrastado para o centro
do escândalo do petrolão - o lobista Julio Camargo, da Toyo Setal, contou à
Justiça que o peemedebista pediu 5 milhões de dólares do propinoduto da Petrobras para
agilizar contratos na estatal -, Cunha formalizou oficialmente seu rompimento
com o Planalto. E afirmou que que é vítima de uma perseguição política
orquestrada pelo governo. "Tem um bando de aloprados no Planalto que vive
desse tipo de circunstância, de criar constrangimentos. Esse bando de aloprados
é que precisa ser investigado", disparou. Instado a citar a quais
aloprados se referia, Cunha não citou nomes. A expressão é a mesma utilizada
pelo ex-presidente Lula em referência aos responsáveis por forjar um dossiê com
falsas denúncias contra o então candidato José Serra (PSDB) nas eleições de
2006 - na ocasião, o coordenador da campanha de Aloizio Mercadante, hoje
ministro da Casa Civil, ao governo de São Paulo, Hamilton Lacerda, foi filmado
entrando com uma mala no hotel onde seriam presos dois dos envolvidos no
escândalo.
"O presidente da Câmara agora é
oposição ao governo. Eu, formalmente, estou rompido com o governo.
Politicamente estou rompido", afirmou. Cunha disse ainda que pregará, no
congresso do PMDB, que o partido rompa oficialmente com o governo. "Não há
como aceitar que meu partido faça parte de um governo que quer me arrastar para
a lama dele". O presidente da Câmara disse que, ao contrário do PT, o PMDB
não está envolvido no esquema que sangrou os cofres da estatal - e não tem
tesoureiros presos, em referência a João Vaccari Neto. "O governo sempre me
viu como uma pedra no sapato, sempre tentou me enfrentar na eleição. Não sei se
é medo de mim. É porque o governo não me queria, não me quer na presidência da
Câmara. O governo não me engole, tem um ódio pessoal contra mim",
disparou.
O peemedebista afirmou que seu
rompimento é pessoal, e que não altera sua posição institucional. "Nada
deixará de ser pautado ou impedido. Teremos a seriedade que o cargo ocupa.
Porém, o presidente da Câmara é oposição ao governo", afirmou o
peemedebista. O anúncio de Cunha pode acarretar consequências graves ao governo
da presidente Dilma Rousseff e, politicamente, indica um afastamento inédito e
sintomático do PMDB dos cabides do poder no momento em que a crise política
beira a temperatura máxima.
A artilharia de Cunha não poupou o
juiz federal Sergio Moro, responsável por conduzir os processos da Operação
Lava Jato em primeira instância, e a Procuradoria-Geral da República,
capitaneada por Rodrigo Janot. "É uma orquestração que tem efetivamente a
participação do governo. Desde a abertura de inquérito até essa ação do
procurador. Janot, de certa forma, negociou sua prerrogativa e sua consciência
visando a recondução ao caego. Quem pode fazer sua condução é o governo, e como
ele está a serviço do governo, é obvio que tem essa interação", afirmou o
peemedebista. "Há um ânimo persecutório fdo procurador da República".
Sobre Moro, Cunha disparou: "Moro acha que o Supremo Tribunal Federal e o
Supremo Tribunal de Justiça se mudaram para Curitiba e que ele é o dono de
todos. É um erro que ele comete, e que pode acabar tornando nulas muitas das
ações que fez. Ele está invadindo uma competência que não é dele". Cunha,
no entanto, defendeu a prisão dos envolvidos no esquema investigado pela Lava
Jato e afirmou que falta gente na carceragem de Curitiba.
O parlamentar ainda chamou o delator
Júlio Camargo de "pilantra". "Você acha que eu vou acreditar em
um pilantra que fala quatro vezes uma coisa e cinco vezes outra? Ninguém
confirma o que ele falou. Você acha que eu vou pautar a minha vida política com
base no que disse um bandido, réu confesso, lobista ou outro doleiro preso?
Eles é que provem. Até porque a lei da delação é muita clara: a palavra do
delator não é prova para nada, eles têm que configurar provas", afirmou.
O presidente da Câmara ainda disse
estanhar o fato de que os nomes de Dilma e Lula tenham sido citados pelo
delator Alberto Youssef e nenhuma investigação tenha sido aberta a respeito -
ao contrário do que houve com ele. "É preciso saber que, seletivamente,
estão pegando as coisas do Youssef e colocando onde querem", afirmou
Cunha. O peemedebista afirma que Janot forçou o delator Julio Camargo a alterar
seu depoimento e que o governo deu início, em 23 de junho, a uma devassa fiscal
contra ele. "Não dá para aceitar que o governo use a máquina para buscar a
perseguição política contra aqueles que se insurgem contra ele ou que,
eventualmente, se posicionem contra ele", disse. "Por que após a
delação do Ricardo Pessoa o procurador não determinou a abertura de inquérito
contra o ministro Mercadante ou contra o ministro Edinho Silva? Ou outros
ministros? Ali houve uma acusação frontal de recebimento de dinheiro de caixa
dois. A atuação do MP tem sido seletiva. É só olhar bem: as casas dos senadores
[alvo de busca e apreensão na terça-feira] não eram nenhuma de alguém do
PT", prosseguiu. "Os próceres do PT estão incólumes".
As retaliações ao governo devem ter
início ao fim do recesso parlamentar. Cunha deve instalar as Comissões
Parlamentares de Inquérito para investigar o Banco Nacional de Desenvolvimento
(BNDES) e os Fundos de Pensões. Além disso, ministros próximos a Dilma devem
ser convocados a falar no Congresso. Ao seu lado, Eduardo Cunha tem o
presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), tão líder dentro do PMDB como ele,
mas não tão influente na capilaridade do Legislativo. Renan aprovou a ideia. É
hora de emparedar o Executivo sobre os rumos da Operação Lava Jato.
fonte veja
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