'Homem de Dilma' na Eletrobras
cobrou propina para a campanha de 2014, diz dono da UTC
Segundo a delação premiada do empreiteiro Ricardo
Pessoa, negociação do contrato de construção da Usina de Angra 3 serviu para
que Valter Luiz Cardeal, diretor da Eletrobras que tem livre acesso ao gabinete
da presidente, cobrasse do consórcio de construtoras “doação” à campanha
petista do ano passado
Por: Daniel Pereira e
Robson Bonin10/07/2015 às 21:11 - Atualizado em 11/07/2015
às 08:19
SINTONIA – O engenheiro Valter Cardeal, diretor da
Eletrobras e braço-direito da presidente no setor elétrico: conluio com o
tesoureiro João Vaccari Neto em Angra 3(Alan Marques/Folha Imagem/VEJA)
Quando era presidente, Fernando
Henrique Cardoso cultivou a fama de exterminador de crises, que, dizia-se,
sempre saíam do Palácio do Planalto menores do que entravam. De Dilma Rousseff,
fala-se exatamente o oposto. Centralizadora e avessa a negociações, a
presidente semeou um quadro de recessão econômica e de derrotas no Congresso.
Rejeitada por nove em cada dez brasileiros, ela também perde apoiadores no
grupo de políticos e empresários que ditam o rumo do país. Até o ex-presidente
Lula, seu mentor, lhe faz críticas cada vez mais contundentes. Com apenas seis meses
de segundo mandato, Dilma está só, não exerce o poder na plenitude nem consegue
mobilizar a tropa governista. De quebra, é acossada por investigações que podem
destituí-la do cargo - entre elas, a Operação Lava-Jato, que esquadrinha o
maior esquema de corrupção da história do país. Diante de uma conjuntura assim,
a maioria dos governantes optaria por mais diálogo, sensatez e pés no chão.
Dilma não. Ela reage à crise com argumentações destrambelhadas, otimismo
exagerado e erros primários de avaliação. Pior: como de costume, alimenta a
agenda negativa.
Na semana passada, a presidente,
contrariando o mais elementar dos manuais de política, fisgou a isca dos
adversários e abordou novamente em público a possibilidade de enfrentar um
processo de impeachment. "Eu não vou cair, isso é moleza", desafiou
em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, na qual chamou setores da oposição de
golpistas. A resposta foi imediata: "Tudo o que contraria o PT é
golpe", ironizou o senador Aécio Neves (PSDB). Nos regimes democráticos, a
destituição de um mandatário depende de provas, do aval das instituições e do
apoio da opinião pública (veja a reportagem na pág. 54). Em sua defesa, Dilma
alega que jamais se locupletou de dinheiro sujo. Falta a essa versão o respaldo
inequívoco dos fatos. VEJA teve acesso a mais um testemunho de que propina
cobrada em troca de contratos - desta vez, no setor elétrico, a menina dos
olhos de Dilma - abasteceu os cofres do PT em pleno ano eleitoral. Os
operadores da transação criminosa foram o onipresente João Vaccari Neto, então
tesoureiro do partido, e Valter Luiz Cardeal, diretor da Eletrobras, o
"homem da Dilma" na estatal e um dos poucos quadros da administração
com livre acesso ao gabinete presidencial.
O relato desse novo caso de desvio de
verba pública para financiar o projeto de poder petista consta do acordo de
delação premiada firmado entre o engenheiro Ricardo Pessoa, dono da construtora
UTC, e o Ministério Público Federal. Num de seus depoimentos, Pessoa contou que
em setembro do ano passado o consórcio Una 3 - formado por Andrade Gutierrez,
Odebrecht, Camargo Corrêa e UTC Engenharia - fechou um contrato para tocar
parte das obras da Usina de Angra 3. A assinatura do contrato, estimado em 2,9
bilhões de reais, foi precedida de uma intensa negociação. A Eletrobras pediu
um desconto de 10% no valor cobrado pelo consórcio, que aceitou um abatimento
de 6%. A diferença não resultou em economia para os cofres públicos. Pelo
contrário, aguçou o apetite dos petistas. Tão logo formalizado o desconto de
6%, Cardeal chamou executivos do consórcio Una 3 para uma conversa que fugiu
aos esperados padrões técnicos do setor elétrico. Faltava pouco para o primeiro
turno da sucessão presidencial. O "homem da Dilma" foi curto e
grosso: as empresas deveriam doar ao PT a diferença entre o desconto pedido
pela Eletrobras e o desconto aceito por elas. A máquina pública era mais uma
vez usada para bancar o partido em mais um engenhoso ardil para esconder a
fraude.
A conversa de Cardeal foi com Walmir
Pinheiro, diretor financeiro da empresa, escalado para tratar dos detalhes da
operação. Depois dela, Vaccari telefonou para o próprio Ricardo Pessoa e cobrou
o "pixuleco". "Quando soube que a UTC havia assinado Angra 3,
João Vaccari imediatamente procurou para questionar a parte que seria destinada
ao PT - o que foi feito pela empresa", relatou o empreiteiro. Aos
investigadores, Pessoa fez questão de ressaltar que, segundo seu executivo, foi
Cardeal quem alertou Vaccari sobre a diferença de 4 pontos percentuais entre o
desconto pedido pela Eletrobras e o concedido pelas construtoras. Perguntado
sobre o que sabia a respeito de Cardeal, Pessoa afirmou: "É pessoa próxima
da senhora presidenta da República, Dilma Rousseff".
Com
reportagem de Adriano Ceolin e Mariana Barros
fonte veja





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