“A mente precisa de exercícios para evoluir”/O neurocientista Ken Kiehl defende que, assim como
deficientes físicos necessitam de fisioterapia, doentes mentais, a exemplo de
psicopatas, têm de trabalhar o cérebro para combater a doença
Por: Jennifer Ann Thomas22/03/2015 às 08:54 - Atualizado em 22/03/2015 às 08:54
Para
o neurocientista americano, a psicopatia é uma herança genética(VEJA.com/Divulgação)
Kent Kiehl, neurocientista americano
da instituição Mind Research Network e da Universidade do Novo México, nos
Estados Unidos, é autor do livro The Psycopath Whisperer (sem
tradução em português; 19 dólares na Amazon), resultado de vinte anos de estudo
com psicopatas presos. Na entrevista a seguir, Kiehl explica como a psicopatia
se desenvolve como uma característica genética e quais são os caminhos para
combatê-la e, assim, diminuir seus efeitos.
Há quem nasce psicopata? Estudos
recentes, como os que conduzi, sugerem que a maior parte das variantes para
traços de psicopatia é genética. Um exemplo é a metodologia que faz uso de
gêmeos. Normalmente, ambos os irmãos marcam a mesma pontuação, seja ela alta,
ou baixa, no teste usado para identificarmos um psicopata. Com essa técnica,
sabemos que ao menos 50% dos traços de psicopatia são relacionados ao DNA. Mas
isso não é uma sentença definitiva para a vida, pois é maleável. Há várias
oportunidades para remodelar as pessoas.
É possível diagnosticar um bebê como
psicopata? Uma criança, sim. Existem psiquiatras que
tentam identificar a doença em pacientes com 5 anos. Todos têm a esperança de
que, mesmo no caso de um jovem que aparenta ser de alto risco para a sociedade,
os pais possam buscar caminhos para resolver, ou ao menos aliviar, o problema
se agirem cedo.
Como alguém consegue exercitar o
cérebro para ir contra a genética? Assim como uma deficiência
física precisa de fisioterapia, a mente necessita de exercícios. Partimos do princípio
que a psicopatia tem a ver com redução de empatia e excesso de impulsividade.
Então, desenvolvemos jogos de computador que estimulam a empatia e reduzem a
impulsividade. O paciente ganha no game se conseguir esperar, planejar e pensar
sobre as atitudes cuidadosamente. Esse tipo de trabalho reduz, em muito, os
traços típicos desse desvio mental.
O psicopata consegue perceber sozinho
que é um psicopata? Usualmente, não. Por sofrer de
falta de empatia pelo outro, o psicopata não percebe como o seu modo de vida
influencia as pessoas. Aliás, nem como ele afeta a própria vida. Durante o
tratamento, porém, quando o psiquiatra explana sobre os atos do psicopata, ele
consegue se reorientar para não repetir os erros. Temos de educar e treinar a
mente do paciente.
Como fazer isso? A
melhor opção é o reforço positivo. Ou seja, reduzir a punição e aumentar os
agrados quando o paciente age corretamente. Pesquisas comprovam que essa
estratégia é mais eficiente em indivíduos com essas características.
Quem tomaria essa atitude corretiva,
baseada no incentivo, não na punição? Pais, professores, babás, quase
todos do convívio do indivíduo podem agir. É preciso trabalhar com o paciente,
principalmente quando é uma criança, em todos os momentos de sua vida. Cabe ao
psiquiatra treinar aqueles que fazem parte da vida do psicopata.
É possível reinserir um psicopata na
sociedade, mesmo um com histórico de crimes? Isso depende
muito da linha filosófica e social do sistema criminal de cada país. Acredito
que os dados falam por si. Sem planejamento, não dá. Exemplo: 80% dos
prisioneiros voltam ao sistema penitenciário dentro de três a cinco anos se não
passaram pelo devido tratamento psiquiátrico. O ponto da minha pesquisa é que,
já que eles serão soltos depois de cumprirem as penas, devemos elaborar
tratamentos, estudos, programas de monitoramento, tudo para minimizar as
chances de essas pessoas voltarem a cometer crimes consequentes de escolhas
erradas de suas mentes perturbadas.
Fonte veja
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