01/01/2015
às 18:33 \ Política & CiaPOSSE DE DILMA: Quando uma presidente não parece acreditar em uma só palavra de seu discurso — que além de tudo foi chocho, auto-congratulatório, quase autista –, alguma coisa está muito errada

Dilma ouve o Hino Nacional após fazer o juramento constitucional, e antes do discurso, ladeada pelos presidentes da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (esq.), e do Senado, Renan Calheiros. À direita de Calheiros, o vice, Michel Temer (Foto: Sérgio Lima/Folhapress)
Parecia, quase, um fim de governo, e não um começo.
Nem os tais 800 ônibus fretados pelo PT conseguiram preencher sequer parte do amplo espaço da Praça dos Três Poderes, em Brasília, para a posse da presidente Dilma em seu segundo mandato. A solenidade toda de posse, no Congresso, e o recebimento da faixa e posterior discurso no Parlatório do Palácio do Planalto, depois, constituíram uma festa chocha, artificial, destituída de espontaneidade e de entusiasmo.
O pior, porém, foi o discurso da presidente à Nação. Interminável, recheado de números, estatísticas e realizações em boa parte contestáveis, autocongratulatório, teve o permanente tom de fala de palanque, de campanha eleitoral.
É uma missão penosa comentar o discurso em detalhes. Não vou fazê-lo.
A presidente leu o texto como se fosse uma bula de remédio, como se se tratasse de uma tabela de Excel.
Não vi emoção alguma em seu rosto, não vi convicção nenhuma em sua parca linguagem corporal, não vi ênfases e, sobretudo, conteúdo.
Onde estão indicações de que país ela pretende? (Mencionou um “projeto de nação” que teria sido apoiado pela população — a despeito de metade dos votos terem ido para a oposição na eleição presidencial — mas nada, do que relacionou a seguir, continha esteios de qualquer projeto que não fosse mais do mesmo).
Onde sua indicação de que lugar pretende que o país ocupe no mundo?
Onde as referências históricas sobre grandes e inspiradores momentos da República como marcos a serem assinalados?
Onde citações sobre grandes pensadores brasileiros?
Foi um parco, tedioso relatório semi-autista de uma “gerentona” que desfiou um rosário de méritos, ignorando ter sido seu período de governo o de pior crescimento na história de 125 anos da República, excetuados os governos do marechal Floriano Peixoto (1891-1894) e — vejam só — o de Fernando Collor (1990-1992).
Foi uma celebração de feitos que deixou de lado problemas gravíssimos, como o espetacularmente ruim desempenho das contas públicas — o pior em quase duas décadas: seu governo se comprometeu a economizar 99 bilhões de reais para pagar os juros da dívida — que, por sinal, vem sistematicamente tornando maior –, e o resultado pífio, ridículo, foi um… déficit de 19,6 bilhões.
Um palavrório que falou em “ética na política”, em reforma política e em combate à corrupção sendo figura-chave de um partido atolado até o pescoço no maior escândalo de roubalheira de todos os tempos, o Petrolão.
Um blablablá que escolheu como slogan um estranho “Brasil, pátria educadora” — e colocou o Ministério da Educação nas mãos de um político de segunda, que fez péssima gestão exatamente nessa área como governador de seu Estado, o Ceará.
O pior de tudo, porém, não é algo concreto, palpável, com imagem, forma e peso: foi que tudo na presidente — seu rosto, suas expressões faciais, sua linguagem corporal — estava desconectado com os feitos que ela celebrava e com os projetos, incontáveis, que ela anunciou.
Dilma passou todo o tempo a impressão de não acreditar no que dizia.
Quando isso acontece logo no primeiro dia de um novo governo, alguma coisa, definitivamente, não vai bem e está muito errada.
fonte coluna do RICARDO SETTI veja




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