O
escândalo da NSA em Israel
Agência transmitia comunicações privadas dos americanos para organização
militar sigilosa conhecida como Unidade 8200
POR JAMES BANFORD / THE NEW YORK TIMES
21/09/2014 7:00 / ATUALIZADO 21/09/2014
8:19
Edward Snowden. Ex-consultor da NSA,
afirmou que israel compartilha dados com israel para serem usados em
"perseguições políticas" - / AP
WASHINGTON —
Em Moscou em meados deste ano, enquanto fazia uma reportagem para a revista
"Wired", tive uma rara oportunidade de passar três dias com Edward J.
Snowden. Isso me deu a oportunidade de compreender mais profundamente quem ele
é, e por que, como um consultor da Agência Nacional de Segurança, ele deu o
passo decisivo de vazar centenas de milhares de documentos confidenciais.
Entre as suas descobertas mais chocantes, segundo ele, temos o fato de
que a NSA rotineiramente transmitia as comunicações privadas dos americanos
para uma grande organização militar sigilosa conhecida como Unidade 8200. Essa
transferência de escutas, ele disse, incluía o conteúdo das comunicações, assim
como os metadados, como quem estava ligando para quem.
Tipicamente, quando tais informações delicadas são transferidas para
outro país, elas primeiramente seriam "reduzidas", significando que
os nomes e as outras informações de identificação pessoal seriam removidos.
Porém, ao compartilhar com Israel, a NSA evidentemente não se assegurou de que
os dados fossem modificados dessa maneira.
Snowden frisou que a transferência de interceptações a Israel continham
as comunicações — e-mails assim como os telefonemas — de inúmeros árabes e
palestino-americanos cujos parentes nos territórios de Israel na Palestina
podiam virar alvos com base nas comunicações. "Acho que isso é
incrível", ele me contou. "É um dos maiores abusos que já
vimos."
Parece que os temores de Snowden eram justificados. Na semana passada,
43 veteranos da Unidade 8200 — muitos ainda servindo na reserva — acusaram a
organização de abusos estarrecedores. Em uma carta endereçada aos seus
comandantes, ao Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu e ao chefe do exército
israelense, os veteranos acusaram Israel de utilizar as informações coletadas
contra palestinos inocentes para "perseguição política". Em
depoimentos e entrevistas veiculadas nos meios de comunicação, eles descreveram
que eram coletados dos palestinos dados sobre a orientação sexual, os casos de
infidelidade, os problemas financeiros, os problemas de saúde familiar e outras
questões privadas que poderiam ser usados para coagir os palestinos a se
tornarem colaboradores ou para criar discórdia na sociedade palestina.
Os veteranos da Unidade 8200 declararam que tinham um "dever
moral" de não mais "participar das ações do Estado contra os
palestinos". Um porta-voz militar israelense contestou o conteúdo geral da
carta, mas disse que as acusações seriam investigadas.
O povo americano deveria se preocupar com o fato de que algumas ou boa
parte das informações em questão — usadas não para a segurança nacional e sim
para seguir agendas políticas — possam ter vindo diretamente da rede doméstica
da NSA. De acordo com os documentos vazados por Snowden e noticiados pelo
jornal britânico “The Guardian”, a NSA envia informações de inteligência para
Israel pelo menos desde março de 2009.
O memorando do acordo entre a NSA e a sua análoga israelense cobre
praticamente todos os meios de comunicação, inclusive — porém, não limitado a —
"transcrições não avaliadas e não resumidas, resumos, faxes, telex,
metadados de voz e de conteúdo da Inteligência de Rede Digital". O
memorando também indica que a NSA não filtra as comunicações americanas antes
de entregar a Israel; realmente, a agência "rotineiramente envia"
informações brutas.
Embora o memorando enfatize que Israel deve utilizar as interceptações
de acordo com a lei dos Estados Unidos, ele também nota que o acordo não é
controlável legalmente. "Esse acordo", lemos, "não tem a
intenção de criar quaisquer direitos legais aplicáveis e não será interpretado
como sendo tanto um acordo internacional quanto um instrumento juridicamente
vinculativo dentro do direito internacional".
Também deveria preocupar os americanos o fato de que a NSA possa tomar
um rumo semelhante neste país. Realmente, existem alguns indícios, de um
documento altamente secreto de 2012 dos arquivos vazados de Snowden, que li no
ano passado, que isso já está acontecendo. O documento, do General Keith B.
Alexander, o então diretor da NSA, observa que a agência vinha juntando
registros de visitas aos sites pornográficos e propõe o uso dessas informações
para manchar as reputações das pessoas que a agência considera
"radicalizadores" — não necessariamente terroristas, mas aqueles
tentando, através do emprego de discursos inflamados, radicalizar as pessoas (o
site “The Huffington Post” publicou uma versão editada do documento).
Em Moscou, Snowden me contou que o documento o lembrava do excesso do
FBI durante os dias de J. Edgar Hoover, quando o birô abusava dos seus poderes
para monitorar e perturbar os ativistas políticos. "É bem parecido ao modo
como o FBI tentou usar a infidelidade de Martin Luther King para persuadi-lo a
cometer suicídio", ele disse. "Decidimos que esse tipo de coisa era
impróprio nos anos 60. Por que estamos fazendo isso agora? Por que estamos nos
envolvendo nisso novamente?".
É uma pergunta que os cidadãos americanos e israelenses deveriam se fazer.
James Bamford é autor de três livros
sobre a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), inclusive
"The Shadow Factory: The Ultra-Secret N.S.A. from 9/11 to the
Eavesdropping on America" ("A Fábrica de Sombras: A NSA ultrassecreta
de 11 de Setembro às Escutas Clandestinas nos Estados Unidos", em tradução
livre).
fonte o globo




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